Todos eram compassivos, calmos e presentes. Tolerância, respeito e a oportunidade de viver o agora. Não havia expectativa sobre o futuro, não havia sentimento de escassez, não havia desentendimento entre os navegantes. Aos poucos eles iam morrendo e sendo sepultados no espaço, deixados para se transformar em poeira cósmica. Era desses átomos humanos que o espaço se nutria. Ao final sobrou apenas uma mulher, que viveu por anos sozinha, sem nenhuma preocupação, sem nenhum desejo, sem nenhuma vontade não atendida. Seu funcionamento cognitivo não era capaz de contar o tempo. Ela vivia o agora em meditação, não havia lazer, afazeres, novos conhecimentos que pudessem fazer algum sentido, só espera, silêncio e calma. Em alguns momentos fazia um exercício imaginativo para saber por onde andariam os outros milhares que haviam deixado a Terra em outros clusters, mas não desejava estar com eles, independente do destino que tivessem tomado. Sabia em todas as suas células que estava onde deveria estar. Era plena. Seu último pensamento foi que agora estava totalmente pronta para se encontrar com Deus. Ela dormiu, a vibração acabou, a nave se desintegrou e ela agora era como eu, somente uma consciência vagando pelo espaço, como um pequeno vírus, um germe de pensamento."